Don't Talk to Strangers

Sunday, March 20, 2005

As Deep as I am

Essa coisa de imagem é interessante. Essa coisa de que
somos tudo o que somos + tudo aquilo que acredita-se que
somos
está cada vez mais vívida pra mim. Toda aquela
conversa sobre simulacros, o hiper-real a cada dia faz
mais sentido. É claro que muita gente pode dizer que
isso é bobagem, que ela é o que é e ponto final (lembro,
inclusive de um grande amigo meu quando digo isso -
grande Fábio! Parece que eu to vendo ele discordar
veementemente de mim) e sob certo aspecto existe razão
nisso. Por outro lado, o auto-conhecimento é um bem que
pouquíssimos posuem - pouquíssimos mesmo. Somos o que
sentimos e o que manifestamos e isso interefere
diretamente na forma como somos vistos, ou seja, por
mais que nos consideremos algo, via de regra somos os
principais responsáveis pela forma como somos vistos -
ou não hehehe.

Mas então...entrando na questão que me motivou a
escrever isso, algo num nível diferente, algo em escala
mundial, onde a construção de imagem de fato produz
simulacros. Fui no show do Lenny Kravitz e me surpreendi
com o que vi. O cara passa uma imagem vazia, antipática,
blasé, robótica, sem vida... o ideal fashion, o culto à
imagem, o auto-culto. O que eu vi no palco foi um cara
simpático, vibrante, querendo agradar, buscando o
feedback do público, chamando a platéia para seguir com
ele, brincando e tal. Ao mesmo tempo, toda a marra que o
cara passa através das imagens glamouriza a coisa toda,
torna tudo mais especial para quem está aqui, entre os
mortais, olhando o que acontece no palco. É como o
tempero apimentado que dá graça ao prato, o azedinho que
torna a laranja interessante, o gás do refrigerante...
incomoda, mas sem ele perde a graça. Imaginem o Romário
comportado. Que merda!!!! O próprio Edmundo, que só joga
bem quando solta os bichos, quando é o bad boy.
Comportado, reprimido, o Edmundo é o que foi no
Fluminense ano passado, um titica gente boa. Mas aí eu
já estou fugindo ao assunto.

Se existe uma coisa que eu aprendi nessa vida é a
não me preocupar tanto com o que se pensa de mim. É algo
que foge ao meu controle, é algo que faz parte da
subjetividade, do íntimo de cada um que me conhece. Cada
um é apenas a fonte de algo que vai se bifurcar
indefinidamente, tantas vezes quantas forem as pessoas
com quem você se relacionar ou tiver conhecido. A
diferença para esses caras é que, no nivel midiático, no
nível em que pessoas dão lugar a personagens existe um
direcionamento controlado da imagem, que evita ruídos e
reduz consideravelmente o número de bifurcações.
Ao menos em relação a mim, na última terça feira, Lenny
kravitz conseguiu bifurcar sua imagem.

Ah... e o show foi do caralho.