Don't Talk to Strangers

Friday, October 22, 2004

Um post antigo: **Uma questão de personalidade.**

Uma pessoa é capaz de assumir várias máscaras por dia. Elas aparecem em função das diferentes situações que enfrenta. Geralmente as variações de comportamento se dão de acordo com os grupos sociais pelos quais este indivíduo passeia ao longo de uma hora, um dia, semana, mês, ano, década ou mesmo a vida inteira e a forma como se relaciona com eles.

Betinho é um rapaz de 17 anos que mora com os pais. É um estudante dedicado, cheio de vitalidade e responsabilidade. Não se envolve nos problemas da família, procurando ficar alheio a tudo que for "coisa de adulto" dentro de casa. Apesar de ter opiniões a respeito de tudo que acontece, prefere deixar que seus pais pensem que ele ainda é uma criança. Eles são mais felizes assim. É um filho exemplar.

Carlos Alberto é um jovem de 17. Na escola, um cara sagaz e inteligente. A grande facilidade que tem para absorver o conteúdo faz com que não se atenha às explanações dos professores por muito tempo. Não é de se envolver ou ser envolvido em confusões ou indisciplinas (isso comprometeria sua imagem com pais e professores), mas tem um talento especial para mover outros a serem indisciplinados. Isso muito o diverte. Na hora própria é capaz de fazer qualquer um rir com suas imitações, piadas, sacadas ou tiradas sarcásticas. Todos alunos do seu ano o conhecem e sabem que dali sempre sai uma parada legal de ser ouvida. Ao mesmo tempo, não tem grande sucesso com as meninas. A maioria delas gostam de rir das merdas que fala, mas ele não passa de um cara divertido.

C.A. é um jovem de 17 anos. Entre os amigos do condomínio, é o cara que se dá bem com as mulheres. Sabe como poucos decifrar a alma feminina e sempre se deu bem por isso. É a companhia perfeita pras baladas. Sempre se dá bem e arruma uma mulher pros camaradas menos afortunados. É capaz de puxar as orelhas dos amigos que mandam mal e dizer a fórmula ideal pra se dar o bote.

Beto é um jovem de 17 anos. Quando está com os primos é um cara discreto. Júlio é o primo mais velho e entendido. Desde criança Júlio sempre foi o líder de todos. Hugo é o primo mais novo e travesso, logo o que sempre foi o mais cercado de cuidados. Aline é disparado a mais faladora. Bruno é o mais engraçado, sempre com uma história tirada da manga. Laura é a mais bonita. Aqui, Beto não podia dar os conselhos de C.A., não podia falar as bobagens do Carlos Alberto, não era tão bonito quanto o Betinho. Não se destacava em nada. Era mais um primo legal, que cumpria um papel na turma, mas no qual diversas nuances de sua personalidade ficavam presas por convenções pré-estabelecidas dentro daquele grupo.

O mesmo acontecia com C.A. que, apesar de ser quem era em relação às mulheres e às baladas, não era dos mais populares quando o papo era falar bobagens. Igual era com o Betinho quando se tratava da discussão de problemas em família e com Carlos Alberto quando o papo era baladas na noite carioca.

Somos muitos na pele de um. Somos as variações de uma mesma pessoa. Somos nós e nossas relações. Somos aquilo que somos dentro do que nos permitem ser. Somos tudo isso e muito mais. Temos muitos dentro de nós mesmos, mas apenas alguns podem ser exteriorizados por vez. Nem por isso deixamos de ser os muitos que somos.