Don't Talk to Strangers

Wednesday, November 10, 2004

Assim caminha a humanidade?

Dizer que a vida que se leva hoje é corrida é lugar comum. Dizer que o mundo sob o signo da concorrência acirrada é lugar comum. "Somos comprometidos com resultados", "Eu poderia estar seqüestrando, matando ou assaltando, mas estou aqui, vendendo essas balinhas e pedindo sua contribuição", "O jogo vai ser difícil, mas vamos em busca dos três pontos". Lugar comum, lugar comum e lugar comum. Mais do que qualquer verdade de botequim, vale a certeza de que hoje, vivemos num mundo regido pela padronização.

O mundo das idéias, uma vez celebrado por Platão, agoniza com o gigantesco volume acumulado de possibilidades ociosas. Vivemos num mundo que, apesar de enaltecer a criatividade como atributo fundamental, se deixa sucumbir à mediocridade imposta pelo receio da não aceitação e do fracasso. Consumimos as fórmulas batidas de uma indústria fonográfica que concentra a absoluta maioria de seu capital na pop music, porque isso não representa risco de investimento. Aplaudimos o pobre futebol europeu pela rigidez dos seus esquemas táticos e proclamamos a propaganda de resultados em absurda oposição à propaganda criativa, como se as duas coisas não devessem andar juntas.

O mundo de hoje relega a 2º ou 3º plano aquilo que existe de mais humano em seu seio: a criatividade. Estamos cada vez mais presos às convenções e sistemas que nós mesmos criamos para nos servirem.

Apostar no múltiplo, valorizar de fato a criatividade e compreender que a padronização de enfoques nos amplos setores é nociva e contradiz de forma venal as pluralidades que vão de indivíduos a culturas e sociedades inteiras. Sair do discurso hipócrita e de fato buscar a diferença. Eis o grande desafio para o início deste milênio.